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Teresa Gonçalves Lobo expõe em Bruxelas

Teresa Gonçalves Lobo expõe na Galeria Casa do Brasil, em Bruxelas, uma série de desenhos e gravuras, a maioria referentes à “sua família dos ís”, primeiramente exposta na Fundação Ricardo do Espírito Santo Silva, em 2013. Nessa altura, disse Maria João Fernandes:


“Teresa Gonçalves Lobo, cujo percurso tenho acompanhado desde o seu início convida-nos a uma reflexão englobante sobre a tendência que subjaz ao seu trabalho, marcante do imaginário contemporâneo, a contaminação dos universos da escrita e da pintura que traduz as metamorfoses da galáxia de Gutemberg, que da palavra impressa regressou à matriz do gesto para subverter a imagem tradicional da escrita. Assistimos uma vez mais nesta exposição ao eclodir de um novo e jovem alfabeto, não ao espelho do mundo, mas a este oferecendo como espelho, a novidade da sua criação. (…)
A subjetividade tão valorizada na modernidade corresponde ao universo da subversão desde sempre praticado pela poesia e no que respeita às artes visuais assumida a partir das vanguardas do século XX com os jogos de Dada e as palavras em liberdade de Marinetti e no contágio com a estética do Oriente, pela pintura abstrata gestual e pelos mestres calígrafos do Ocidente, os belgas Henri Michaux (1899-1984) ou Christian Dotremont (1922-1979) que permanecem os paradigmas desta expressão fundadora do imaginário no século XX. (…)
Teresa Gonçalves Lobo, herdeira da tradição que em Portugal une pensamento e visualidade privilegiou na sua escrita de signos plásticos, uma letra emblemática da sua criação de jovem calígrafa ocidental alimentada pela sedução do Oriente. A letra i “em pessoa” é a protagonista da sua incursão nos mistérios do alfabeto. Tal como Alice, a artista passa para o outro lado das suas formas conhecidas, elegendo esta letra pessoana pela variedade das suas aparências, que tal como no caso do imortal poeta se resumem a uma única essência, espelho íntimo da perplexidade humana.
Escolheu a forma minuciosa e frágil, ou o gesto mais denso e afirmativo, entre o vermelho e o negro. Solidão deste “i” que reata o laço com a figura humana na origem de toda a linguagem, mas que ao mesmo tempo o subverte e ganha autonomia, como verdadeiro personagem de um teatro da novidade do alfabeto, restituído ao fulgor do início e à sua imprevisibilidade. Teatro da alteridade, onde o sujeito, esta letra sujeito, perde a sua autonomia e ganha uma outra, travestida de uma alegria voluptuosa e vermelha, ou uma austeridade enigmática que parece definitiva, como um ponto final. (…)”


A exposição estará patente até 29 de Junho.

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