Teest PT

As tentações do Senhor Valéry

Teatro Municipal Baltazar Dias, Funchal

Servas do senhor

Servas do senhor

Desenho a tinta da china

73 x 995 / 2018

Joanna Latka apresenta estas “tentações do Senhor Valéry” que partem do universo literário do Gonçalo M. Tavares, autor da série “O Bairro” na qual se insere o livro “O Senhor Valéry”, e de uma reflexão da artista sobre a Mulher e a Igreja. Tratam-se de desenhos e gravuras, com o forte cariz expressionista que caracteriza a sua obra. Diz a respeito do seu próprio trabalho “Observo, logo sou” e foi dessa observação, contínua, apurada, por vezes crítica, outras irónica, que nasceram estas duas séries que protagonizam esta exposição.
Deambula o Senhor Valéry por um qualquer bairro, recordando as primeiras impressões da artista quando chegou ao nosso país das quais lhe ficaram os estendais com roupa branca, imaculadamente colocados à beira das janelas. Anda, pois, pelas ruas um senhor «pequenino, mas dava muitos saltos. Ele explicava: Sou igual às pessoas altas só que por menos tempo.», o seu nome Senhor Valéry que, sempre acompanhado de uma certa lógica, a sua, chegava a “conclusões absurdas”. Um dia

encontra uma mulher e a sua constante tentativa de explicar o mundo fica ameaçada pelas tentações que o assolam. É neste ponto que se inicia a narrativa de Joanna Latka, dando uma nova existência à personagem de Gonçalo M. Tavares, que por sua vez era já uma ficção de Paul Valéry, filósofo francês do século XIX.

São estas «As tentações do Senhor Valéry» representadas numa instalação de desenhos sobre gravura cegas, e num conjunto de desenhos a tinta-da-china em papel de cenário, onde o monocromatismo está muito presente para acentuar um certo dramatismo e densidade, trazendo ao discurso expositivo questões como a tradição judaico-cristã, o pecado, a culpa, o bem e o mal, o comportamento, todavia ainda desigual, da Igreja e da Religião face à Mulher e ao Homem. Não se espere, porém, desta interpretação e reflexão de Joanna Latka qualquer espécie de moralismo ou radicalismo, antes pelo contrário, o seu sentido é profundamente humanista.

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