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Ilda Reis, “O que é a vida e o que é a morte”

Em data de celebração do centenário do seu nascimento, importa ir às origens do percurso que Ilda Reis iniciou em 1962 quando frequentou a Escola de Artes Decorativas António Arroio, em Lisboa, e que veio a afirmar-se no final dessa década com a formação na Cooperativa de Gravadores Portugueses. Desses primórdios vem, por um lado, uma forte relação com a Literatura onde encontramos as líricas de Luís Vaz de Camões, a poesia de Fernando Pessoa e dos seus diversos heterónimos, palavras inscritas na matriz ou sugeridas na composição.

Por outro, a temática da vida, da matéria orgânica e de referenciais biológicos cedo se revelaram como partes estruturais do seu léxico artístico. Tomando estas origens como ponto de partida, inicia-se esta viagem sobre a batuta pessoana: «O que é vida e o que é morte».

Apesar da pintura, por onde se iniciou na prática artística e aonde veio a regressar no final da sua vida, foi na gravura que encontrou a sua expressão mais intensa e profunda. À técnica, que aprendeu com Carmen Garcia e Isabel Bons, na Cooperativa de Gravadores Portugueses, Ilda Reis acrescentou a sua sensibilidade poética, a sua condição enquanto mulher, a sua curiosidade pelo ofício, explorando as múltiplas possibilidades da gravura, seja pela incorporação de matéria na matriz, tecidos ou pedaços de madeira, seja pelo recurso à fotografia, ou ainda pela mestiçagem num mesmo suporte das técnicas da gravura em metal e em madeira.

As suas gravuras caracterizam-se por uma tactilidade muito particular, onde se destacam, sobretudo, as xilogravuras, fortemente influenciada por João Hogan, um dos seus mestres. Ao longo dos 30 anos da sua prática artística, foi dominando a matriz, nessa espécie de luta entre a mão que grava e a matéria que nem sempre se deixa gravar. (…)

(…) Neste (re)encontro com a obra gravada de Ilda Reis, estão as suas obras mais icónicas como a série “Tempo de vida”, “Ghetto” com a qual foi distinguida, em 1988, com o Grand Prix Européen des Arts et des Lettres, ou “Sinfonia I”, a sua última distinção com o Prémio de Edição, na IV Bienal de Gravura da Amadora, em 1994.

Cerca de 30 gravuras que representam a sua produção entre 1966 e 1994, gravitando em torno da vida e da morte, da poesia à natureza onde o profundamente simbólico e «indefinível», citando novamente RMG, são o grande enigma de Ilda Reis.

Ana Matos (Lisboa, 5 de junho de 2023)

A exposição pode ser visitada na Biblioteca Nacional de Portugal entre 4 de julho a 7 de outubro de 2023.

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