Ao longo do seu percurso artístico, Cláudio Garrudo tem vindo a explorar o cruzamento da Fotografia com diferentes territórios como a Pintura e a Literatura, de onde se poderia destacar a série “Trinus”, na qual Miguel Torga e Gonçalo M. Tavares se cruzam com um oceano pictórico, ou essa “realidade para sempre reduzida ao seu enigma” que o Professor Eduardo Lourenço manifesta a propósito da série “Quintetos”. Em “Sarkis” estas e outras artes são convocadas, não como um epitáfio, antes pelo contrário, como uma homenagem aos criadores e aos agentes das diferentes áreas da criação, numa clara reflexão sobre a importância da Cultura e da Arte. Cinema, Literatura, Artes Plásticas e Música numa exposição que formalmente tem a imagem fotográfica como fio que nos conduz pelo discurso expositivo.
Inerente a esta sua mais recente exposição, encontra-se outro dos grandes temas sobre o qual Cláudio Garrudo se tem debruçado: o tempo. Refere José Manuel dos Santos, sobre a “Luz Cega”: “[Cláudio Garrudo] Gosta de encontrar o kairos (tempo qualitativo) do khronos (tempo quantitativo)”. Desta feita o tempo torna-se naquele véu diáfano através do qual outros objectos de revelam, da sua passagem da sua patine, dos versos tornados frentes, e destas transformados em reversos.
No início do seu texto sobre “Sarkis”, diz Manuel João Vieira: “Imagens, discursos, sons, processos, épocas. Gravadas pelo Tempo, gerador e triturador de imagens, peças de engrenagens da máquina da Vida. Ou digamos ramos secos ou viçosos da árvore da Morte.
Ecos de ecos e portas que dão para outras portas.
A fotografia é límpida, nítida, precisa, virgem, bidimensional, de superfície lisa e regular e capta o objecto que é o seu contrário.
A arte capta também o duplo, o outro que há em nós, um outro que simula e projecta pela primeira vez as suas impressões no seu jogo.”