De passagem atravessamos uma rua e estamos no outro lado da estrada, prosseguindo a nossa viagem. De passagem Jaime Vasconcelos faz o mesmo percurso, é retido, olha o chão e descobre uma imensidão de formas na mesma passadeira onde passamos diariamente. Aquelas riscas brancas, entretanto gastas pelo tempo e pelo uso, revelam inúmeras histórias, personagens e situações. Está encontrado o mote para este novo trabalho: «De Passagem» é um daqueles momentos de liberdade máxima que à arte é, felizmente, permitido, tornando-a numa força capaz de alterar a percepção que temos do mundo. Nesta exposição encontramos fragmentos de passadeiras transformados pelo re-enquadramento da fotografia original e pela introdução da Cor. Surge, desta forma, uma outra leitura de uma realidade que, mesmo quando fotografada, é sempre subjectiva, resultante do olhar e sensibilidade do artista.
As obras apresentadas nesta exposição são o reflexo de uma aproximação à pintura que Jaime Vasconcelos iniciou em 2007, em que recorre à fotografia como uma ferramenta, mais que uma forma de expressão per si. Vasconcelos fotografa uma imagem real e concreta, no caso as passadeiras, contudo o seu trabalho artístico prossegue num outro tempo, com recurso ao suporte digital, extravasando o testemunho de uma realidade. A questão do tempo e do tratamento cromático são, aliás, duas características muito importantes no seu trabalho: o tempo de maturação e de cumplicidade com o objecto fotografado, e a introdução cromática como forma de expressão de uma emoção, sentimento ou narrativa. Nestas imagens, resultantes de processos digitais com base fotográfica, são bem visíveis as heranças dos ready-mades de Marcel Duchamp e a força cromática e sensual de Mark Rothko que defendia que “a sensualidade é o nosso index do real” [A realidade do artista, Mark Rothko].