«Das sombras e do nevoeiro» apresenta uma selecção de gravuras e desenhos de Joanna Latka que se caracteriza pelo forte cariz expressionista, num registo monocromático e de intensos contrastes entre o claro e o escuro, numa evidente referência ao expressionismo alemão. Daí o título desta exposição, inspirado, do ponto de vista formal, no filme homónimo de Woody Allen (1991), também este uma homenagem a este movimento artístico do início do século XX.
As obras apresentadas nesta exposição convocam-nos para uma viagem ao percurso artístico de Joanna Latka, iniciado ainda em Cracóvia, a sua cidade natal. Desses
tempos, nos idos 2005, Joanna mantém a sensibilidade para observar a realidade, guarda as sensações e percepções na memória, transformando-as, depois, nas suas próprias expressões, no duplo sentido do termo: literal e artístico.
A “realidade” torna-se, pois, um território pessoal, emotivo e único que ganha existência na matriz de metal ou na folha de papel. Aparecem anjos em luta e em queda. As almas nadam por um rio. Ao telefone
e no metro escutam-se frases soltas. Há beijos e sushi. Passeia-se, de noite, claro. Há mulheres, alimentadoras ou amantes. Há conversas de um qualquer quotidiano. Encontros e desencontros numa quinta face da lua. Surgem como sombras num ora intenso ora suave nevoeiro., suspensas na parede ou no meio da sala como galáxias. Os atómos são estes personagens de figuração distorcida, envoltas num mistério, de estórias e cenários ficcionados, de contornos sombrios e contrastados. Uma imaginação irónica e satírica, instrumentos de estilo e formais bem característicos da sensibilidade artística de Joanna Latka, que a eles recorre para provocar o espectador a sair da órbitra e levantar voo. Como no livro de Italo Calvino, vamos fazer voar as galáxias?