“Beograd Concrete” resultou de uma residência artística em Belgrado, Sérvia, no âmbito do Belgrade Photo Month 2021, na qual Inês d’Orey criou uma série fotográfica que envolve a arquitectura modernista e brutalista presente nesta região do mundo. O conceito da identidade que a arquitectura imprime num determinado território é uma constante no trabalho da artista, o qual já explorou em outras cidades, como Lisboa, Porto, Copenhaga e Tóquio.
No caso de Belgrado, Inês d’Orey interessou-se especialmente na mistura de estilos e referências arquitectónicas que encontrou na cidade, onde edifícios públicos, construídos entre 1946 and 1980 se intersectam com outros edifícios datados durante a Primeira Guerra Mundial, quando a Jugoslavia foi formada.
A fotografia de Inês d’Orey como linguagem, repleta dos seus próprios signos e símbolos, deriva do espaço enquanto objecto arquitectónico e a ele vem a regressar um pouco mais adiante. Há como que uma suspensão do tempo de um lugar mutante, repositório de uma “patine” que parece cristalizar esse momento de ausência temporária da presença humana. Antevemos, pois, que são lugares habitados, ou melhor vividos, calcorreados, num tempo que se retoma, pondo em marcha a história. — Ana Matos, in Folha de Sala