Do violino e do piano de Arvo Pärt nasceu, em 1978, a peça “Spiegel im Spiegel” (Mirror in the Mirror), uma melodia a dois instrumentos que congrega simplicidade, pureza e inocência. É como uma escalada, um devir entre o solo do violino e as três notas do piano, o “anjo da guarda” nesta composição que representa, nas palavras do próprio autor um “returning home after being away”. Há imagens que nos remetem para a música, que nos fazem entrar na poética dessa arte tão suprema, universal e eterna porque toca no mais íntimo e escondido que há em nós.
«Antecâmara» de Inês d´Orey leva-nos para esse território do indizível, onde o léxico e o simbolismo são de outra natureza. Retratam esse vazio que sentimos no momento da espera, a procura pelo nosso “anjo”, qual piano de Pärt que também em espelho nos leve a outros lugares, expectantes num tempo e espaço que se suspendem. Pontual ou indirectamente a presença humana assume-se como protagonista destas fotografias, o espectador é convidado a deambular por estas narrativas que resultam da junção de diferentes séries da artista e onde parece ouvir-se ao longe as palavras de Vinicius de Moraes: “Ai quem me dera ouvir um nunca mais / Dizer que a vida vai ser sempre assim / E finda a espera / Ouvir na primavera / Alguém chamar por mim”.