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Trinus

Galeria das Salgadeiras

Há um lado de expedição, quais navegadores a quem Pompeu terá dito “Navegar é preciso, viver não é preciso”, neste conjunto de obras que Cláudio Garrudo apresenta na Galeria das Salgadeiras e que resultou de uma residência artística em alto mar, a bordo de um cargueiro, com destino a uma terra cujo nome não é o mais relevante. Mantenha-se o mistério da chegada, já que como diz Miguel Torga no poema “Viagem”, que acompanha esta exposição, “O que importa é partir, não é chegar”. Do topo dos contentores ou da torre do barco, Cláudio Garrudo registou, em diversos momentos do dia, o que tinha à sua volta, mar, só mar. Talvez não…

Com o decorrer das horas, as variações da luz, o sol que nasce e se põe, o tempo que passa na contemplação do espaço trouxeram-lhe uma outra leitura do horizonte. E se lá ao longe estivesse terra, a terra nova, a terra desconhecida prestes a deixar de o ser, um porto que se espera seguro e firme?

A vertigem da ilusão, da miragem que tantas vezes confunde ou esperanceia os aventureiros assoma-lhe o espírito e leva-o a captar em duplas exposições essa realidade, não literal, antes subjectiva, nessa sucessão ininterrupta e eterna de instantes. Imagens de mar e de um mar que deixa de o ser, passando a ser céu, terra, istmos, cabos, promontórios, a tormenta das águas ou a paz encontrada, que nos falam da viagem física ou simbólica, e do tempo real ou imaginário.

Subimos as escadas ou descemos? outra das interrogações que esta exposição nos coloca na única imagem em que o referencial se encontra bem definido e que nos remete para o espaço através do qual a travessia se faz. “Aparelhei o barco da ilusão” e talvez já não seja o general romano a comandar as hostes. Afinal, para Cláudio Garrudo “Navegar é preciso” e navegar é viver.

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