Há mistérios para os quais não temos, felizmente, resposta, pelo menos no campo da lógica cartesiana. Assim é com este “collected wishes” que parece estar suspenso, como se a massa dos desejos nele depositados fosse suficiente para anular a força gravitacional vinda da Terra, ou então o seu ponto de gravitação seja outro que a Newton se não deve, antes ao imaginário de Daniela Krtsch. Sem peso, portanto suspensos, estes desejos encontram-se, no discurso expositivo, na fronteira entre dois momentos, o repouso e a fluidez. Não há horizonte, não há referencial nesta fronteira alegórica, simplesmente ecoam, num momento de inspiração, as palavras “please be quiet”. Em tom baixo, num sussurro sustentado pelo cromatismo, profundo e luminoso, porque no universo da imaginação, a luz, tal como a gravidade, consegue desafiar as suas leis mais fundamentais.
A exposição parte do conto homónimo de Raymond Carver que nos traz questões como a solidão, a perda, a intimidade, ou de forma mais simbólica a temática da identidade. E o amor que, nas suas múltiplas acepções e circunstâncias, nos leva à redenção. Com um acto libertador, a pintura já não se condiciona pela imagem original, o gesto prolonga o pensamento, convocando para um momento de silêncio, numa metáfora da nossa actual circunstância. As palavras, uma vez mais acentuadas pelo ritmo no espaço expositivo, regressam com uma nova formulação e intenção. “please be quiet, please”, como se o fim voltasse a ser princípio. Na pintura, como na vida.