«Pessoas» é um daqueles casos em que o título da exposição reflecte em absoluto a atmosfera e o espírito expositivos: encontramos nesta mostra excertos de vidas ficcionadas em diversos momentos e contextos que poderiam ser os de cada um de nós, Desde o retrato da figura humana em ambientes de sedução e intimidade, como em Garrudo e Vasconcelos, à representação pictórica de Latka e Ubach, Rodrigo Leão convida-nos a uma contemplação, a um «sentir de novo», a um vermo-nos no espelho na busca de nós próprios, como que a relembrar que somos “pessoas”, sempre! A palete monocromática das obras expostas remete-nos, inevitavelmente, para a melancolia e a nostalgia poética da música de Rodrigo Leão, feita de sentimentos, emoções e afectos que toca nevralgicamente a alma profunda e atenta, que Fernando Pessoa refere no seu livro do desassosego, do qual recupero a seguinte citação:

«[Mas] na arte não há desilusão porque a ilusão foi admitida desde o início. Da arte não há despertar, porque nela não dormimos,embora sonhássemos. Na arte não há tributo ou multa que paguemos por ter gozado dela», in o Livro do Desassosego, Bernardo Soares. Aproveitemos este mote e deixemo-nos descobrir estas pessoas de Rodrigo Leão, num daqueles momentos de libertação que só a arte nos pode proporcionar, acompanhados de uma selecção de músicas da sua autoria que o próprio preparou para esta exposição.