Para esta 9ª edição da ARCOlisboa, apresentamos uma proposta com obras inéditas e recentes de Daniela Krtsch e Rui Horta Pereira, dois artistas nos quais as questões da identidade e alteridade, e a perspetiva do “eu e do outro” estão muito presentes, e nesse sentido bastante alinhados com tema «Le grand monde», proposto pelas curadoras Chus Martínez e Luiza Teixeira de Freitas para a secção Opening deste ano.
«Le grand monde» remete também para o romance de Pierre Lemaitre onde se aborda a questão da reconstrução, e é a partir desta ideia que esta proposta curatorial foi concebida. As obras de Daniela Krtsch trazem-nos as suas narrativas suspensas, em que se pressente o outro, por vezes ambíguo e não explícito, outras vezes misterioso, como se estivesse em um fora de campo “hitchcokiano”. As referências literárias e cinematográficas encontram-se, aliás, muito presentes no universo pictórico de Daniela Krtsch.
Rui Horta Pereira apresenta os novos passeios da “jornada peripatética” que tem vindo desenvolver desde 2021 e que retoma esse princípio de Aristoteles de que o ensinamento se processa caminhando, passeando ao ar livre, em uma comunhão com os seus discípulos. Ainda lugar para um apontamento de ironia e do absurdo, muito característicos do trabalho de Rui Horta Pereira, com as obras “Ditongo” e “Uma certa acomodação”.
É (também) pela empatia, pelo conhecimento, pela partilha de e com o(s) outros, que somos sempre cada um de nós, que podemos reconstruir este “grand monde”, e a Arte é uma das formas de iniciarmos e concretizamos esse processo. O tempo urge, a vontade importa. — Ana Matos.