Inaugurada a 18 de Março, a exposição “Trinus” na galeria do MUDAS.Museu de Arte Contemporânea da Madeira, com a curadoria de Ana Matos.
“Há um lado de expedição, quais navegadores a quem Pompeu terá dito “Navegar
é preciso, viver não é preciso”, neste conjunto de obras que Cláudio Garrudo
apresenta na Galeria das Salgadeiras e que resultou de uma residência artística em
alto mar, a bordo de um cargueiro, com destino a uma terra cujo nome não é o
mais relevante. Mantenha-se o mistério da chegada, já que como diz Miguel Torga
no poema “Viagem”, que acompanha esta exposição, “O que importa é partir, não é
chegar”. Do topo dos contentores ou da torre do navio, Cláudio Garrudo registou,
em diversos momentos do dia, o que tinha à sua volta, mar, só mar. Talvez não…
Com o decorrer das horas, as variações da luz, o sol que nasce e se põe, o tempo que
passa na contemplação do espaço trouxeram-lhe uma outra leitura do horizonte.
E se lá ao longe estivesse terra, a terra nova, a terra desconhecida prestes a deixar
de o ser, um porto que se espera seguro e firme? A vertigem da ilusão, da miragem
que tantas vezes confunde ou esperanceia os aventureiros assoma-lhe o espírito
e leva-o a captar em duplas exposições essa realidade, não literal, antes subjectiva,
nessa sucessão ininterrupta e eterna de instantes. Imagens de mar e de um mar que
deixa de o ser, passando a ser céu, terra, istmos, cabos, promontórios, a tormenta
das águas ou a paz encontrada, que nos falam da viagem física ou simbólica, e do
tempo real ou imaginário.
Subimos as escadas ou descemos? Outra das interrogações que esta exposição
nos coloca na única imagem em que o referencial se encontra bem definido e que
nos remete para o espaço através do qual a travessia se faz. “Aparelhei o barco da
ilusão” e talvez já não seja o general romano a comandar as hostes. Afinal, para
Cláudio Garrudo “Navegar é preciso” e navegar é viver.”
Ana Matos