O olhar sempre atento e irónico de Joanna Latka propõe-nos, nesta sua nova exposição, uma reflexão sobre algumas catástrofes extremas, perenes na nossa memória colectiva, que provocaram perdas de vida e de património, e que deveriam constituir um instrumento para uma consciência global do papel de cada um, indivíduos, instituições, Estado, neste complexo Mundo que é o nosso.
Água e fogo nos seus mais intensos cromatismos, figuras numa simbiose entre a fábula e a sátira, o Eu e o Outro, Deus e o Diabo, são elementos que nos poderão
permitir descobrir se chegámos a um ponto de ruptura com a Natureza connosco mesmo, enquanto espécie. Será esta a Hora do Diabo, título este que remete para a obra homónima deFernando Pessoa? E, afinal, onde reinará este espírito diabólico, esta Serpente que, em sua própria defesa, reclama: “Sou o Deus da Imaginação, perdido porque não crio.” Levados pela mão deste Diabo de Fernando Pessoa, indagamos-lhe “Que coisa tão pavorosa e tão bonita! O que é aquilo tudo ali em baixo?”, ao que nos responde “Aquilo, minha senhora, é o mundo!”