Nesta sua quarta exposição individual na Galeria das Salgadeiras, Cláudio Garrudo apresenta uma série de fotografias em torno da sua descoberta da Natureza, num território que até agora, e apenas em certa medida, lhe é menos previsível sendo, nesse sentido, uma agradável surpresa. Agradável porque é precisamente esse um dos intuitos desta série: o de suscitar o prazer dos olhos e dos restantes sentidos ao olharmos para estas árvores, para o céu, para essa imensidão da Natureza, captada de baixo, em cinco momentos distintos e contínuos. A juntar este cariz hedonista, a surpresa que intensifica a experiência: depois de diversas séries focadas no corpo, como Borderline e Vénus, ou mesmo em Empty Beds — ainda que aqui por uma presença apenas ficcionada, Cláudio Garrudo apresenta estes Quintetos como uma acto de libertação do corpo, da sua memória e do seu referente. Deixamos de ver ou adivinhar o corpo, passamos, nós, espectadores, a ser o Corpo, ao entrar nestas paisagens e nos diluirmos nelas.
É neste ponto que o trabalho de Cláudio Garrudo recupera a sua coerência e persiste numa continuidade autoral: convida o espectador, o observador, a entrar na obra, a espreitar um pouco mais além, a deixar-se seduzir pelas sensações do desconhecido, do belo, do sublime. O mistério, esse, continua lá… Há como que uma camada, ou melhor uma diversidade de camadas, provocada por estas múltiplas-exposições, cinco disparos num mesmo registo, congelando-os num único instante. Se por um lado, Quintetos explora esse lado mais aleatório da sobreposição e que regista o “objecto” de forma quase surreal, por outro acentua a relação que Cláudio Garrudo tem explorado entre a Fotografia e a Pintura: depois do tempo, da composição pictórica e do cromatismo, o gesto induzido pelo movimento da câmera. Um gesto marcado em cinco momentos, ou não fosse o cinco o número que representa a liberdade, a revolução, a transgressão.