O conjunto de 14 obras que Helena Gonçalves apresenta nesta exposição permite-nos uma (re) descoberta de Lisboa através do registo fotográfico de diversos lugares característicos da cidade. Na busca de uma maior verdade na captação da realidade, uma cidade vive, de facto, 24 horas por dia, cada um destes lugares foi registado de dia e de noite, a partir do mesmo ponto de observação. Contudo, não se trata de sobreposição de fotografias, antes Helena Gonçalves explora a fotografia como um objecto fotográfico, a três dimensões. Num primeiro plano encontra-se a imagem relativa ao dia que, através de um corte rectangular, revela o registo nocturno, apresentado num plano posterior. Uma leitura do mesmo espaço a dois tempos, a duas luzes.
Num paradoxo ao «para mais tarde recordar», Helena Gonçalves desafia-nos, nesta exposição, que
recordemos agora e vivamos estes lugares como eles se nos apresentam hoje, tratando da cidade com a dignidade e o respeito que ela merece. São Pedro de Alcântara, o Rossio, os Restauradores não são meros lugares físicos ou entidades abstractas, têm uma história, uma memória e uma vida próprias. Olhemos e reparemos nestes lugares. Olhemos e reparemos nestes registos fotográficos. Em conjunto estas experiências permitem-nos uma melhor percepção da realidade e das nossas responsabilidades enquanto cidadãos. Esta é, aliás, uma das questões que estão na ordem do dia no mundo da Arte: a consciencialização que o artista pode ter um papel activo e agitador na sociedade, alertando para alguns dos seus problemas, posição defendida por muitos críticos de arte donde se destaca em particular Hal Foster e o seu «Return of the Real».